quinta-feira, 26 de dezembro de 2013
Só para completar o que escrevi acima.
Hoje, a Pretinha continua muito assustada, mas está bem menos selvagem. E vive em volta da minha casa, em Angra. Ela tem as ninhadas por perto e alimenta-se sempre ( quando estou lá), na minha varanda. Já deixa, até, eu fazer festinhas na sua cabeça.
Da sua penúltima ninhada, há a Petra, uma gata toda preta linda, muito mansinha, que também é minha cria: não sai da minha varanda, se a porta estiver entreaberta entra em casa, já foi castrada e está obesa, de tanto que come!
Da última ninhada da Pretinha não sei, mas já me disseram que ela teve dois gatinhos, que AINDA estão escondidos. Quando puderem comer, serão mais dois para eu castrar e alimentar...
Esta Famiglia Gatto do condomínio dá-se toda muito bem, não há brigas. As minhas duas cariocas, a Fanny e a Pepita, que são muito amigas e vivem se lambendo, quando estão em Angra dividem irmãmente a comida com as outras, numa boa.
Agora, um problema: não sei como fazer para castrar a Pretinha e acabar com a alegria do Charles e o aumento da colônia... porque se continuarem a nascer mais gatos, vai haver reclamações das pessoas que tem casa no condomínio e NÃO gostam de bichos. E tenho medo que alguém invente de pôr mais chumbinho...
À la CORA RONAI
( se não gosta de animais, não leia).
A conhecida jornalista de O GLOBO tem em casa 8 gatos, a quem, carinhosamente, chama de Famiglia Gato.
Eu não tenho 8 gatos. Tenho duas gatas, que têm histórias estranhas de vida, mas que são amorosas e meiguinhas. Vou contar, para quem me dá a honra de acessar esta página, como a Fanny e a Pepita entraram na nossa vida.
Indo mais atrás, para ser exata, uns 15 anos atrás, comprei uma pequena casinha em Angra dos Reis, num condomínio fechado, em frente ao mar, junto de um rio e de um terreno baldio, onde existia uma colônia de gatos. Ninguém sabe como apareceram lá, mas foram procriando e lá viviam, meio abandonados e selvagens, se multiplicando muito. Assistíamos a brigas terríveis entre os machos, na hora do acasalamento.
Como sempre adorei bichos,eu e uma amiga ( Luisa), que também tem casa lá, começamos a tentar melhorar a vida desses bichinhos. Isto, depois que uma "alma caridosa", como infelizmente há muitas!!! se divertiu semeando pelo condomínio o veneno conhecido como chumbinho, que matou alguns gatos, num sofrimento atroz.. E depois também que o síndico do condomínio, da época, outra "alma caridosa..." resolveu mandar apanhar com uma rede os gatos possíveis, para depois abandoná-los à sua sorte, em algum lugar distante. Desta leva abandonada, UMA gata, a quem chamamos de Pretinha, tempos depois conseguiu regressar ao condomínio e lá está até hoje - muito arisca e assustada sempre, pois sabe o que sofreu quando foi abandonada, coitadinha, até conseguir regressar à sua casa.
Aos poucos, fomos conseguindo pôr as fêmeas em caixas e levá-las à veterinária, para serem castradas. Morreram alguns machos, outros sumiram e ficou só - o Charles- e suas 6 mulheres... mas a Gatinha, a Loirinha, a Cidinha, a Peg, a Meg, e a Mitzi, foram castradas. Para ele "brincar", só restou a Pretinha, que NINGUÉM conseguiu apanhar, até hoje, para mandar castrar! Porque ela escapa sempre, gato escaldado te medo... Por isso só ela, desde essa época, tem ninhadas periódicas.
Um dia, a Mitzi começou a ficar na minha varanda e nós fomos nos afeiçoando a ela, até que decidimos adotá-la. E ela passou a viver connosco, vindo para o Rio e indo para Angra, sempre.
Meiga, sociável, a Mitzi foi a nossa companheira durante 10 anos, até ter câncer, ser operada e morrer, depois de três meses de muito sofrimento - dela e nosso. Depois disso, decidimos que não queríamos ter mais gatos e dei TUDO que tinha aqui em casa, da Mitzi. Até que um dia... meses depois... o porteiro do meu prédio tocou o interfone pedindo para irmos ver na portaria, pois andava há dias perdida na rua onde vivemos uma gatinha, muito parecida com a Mitzi, abandonada e cheia de fome, levando pontapés dos passantes e que já tinha, até, sido atropelada por um carro.
Nós não queríamos ir, mas o coração falou mais alto e o meu marido desceu. Quando o viu , a gata abandonada refugiou-se no colo dele e dali não saíu mais.
Preciso contar o resto?
Assim a Fanny entrou na nossa vida, e até hoje não sabemos se ela foi abandonada pelos antigos donos ou se fugiu da casa deles. Ela estava bem castrada e tinha cerca de 4 anos (disse a veterinária). Faltavam-lhe alguns dentes, certamente quebrados pelos pontapés que levou, a probrezinha, enquanto perambulava pela rua, abandonada.
Bem, ficamos com a Fanny.Uma gata adulta, comportada, super-sociável.
Enquanto isso, no condomínio, em Angra, a Peg foi adotada por um casal bondoso, a Regina e o Paulo, e a Pretinha continuou tendo filhotes. Como entretanto houve eleições e mudou o síndico - que é agora o Gonzaga, um homem que gosta de animais-ele autorizou que fosse feito um gatil, onde há sempre água e comida para a colônia dos nossos gatos angrenses. Mas quando eu ou a minha amiga Luisa lá estamos, eles preferem os nossos "botecos" pois a boia deve ser melhor que a do gatil...
Meses depois de a Fanny estar com a gente, um gatinho preto e branco, filhotinho da última ninhada da Pretinha, começou a vir comer a ração que ponho sempre na minha varanda. Bonitinho, preto e braco, olhos vivos, comia e fugia. Comecei a chamar- lhe Pepe.
Como sempre fazemos, um domingo à tarde fechamos a casinha de Angra, pusemos no carro as mochilas e a caixinha com a Fanny. Era janeiro, pleno verão. Um calor abrasador. Viemos pela Avenida Brasil, sempre engarrafada, umas 3 horas de viagem, chegamos ao Rio, estacionamos o carro na garagem, tiramos a Fanny e as mochilas, viemos para o apartamento, dormimos. Na segunda-feira, pelas 7 da manhã, liga pelo interfone o empregado do edifício que lava o meu carro e fala com a nossa empregada " Diga à dona Lourdes para descer, que tem um gato miando dentro do capô do carro dela". Não pode ser, disso o meu marido, mas o faxineiro tanto insistiu, que ele vestiu-se e desceu. E não é que havia, sim, um gatinho miando, dentro do capô?
Sujo, cheio de óleo, assustado, cheio de fome e sede lá estava o filhote da Pretinha - o Pepe (que devia estar dormindo dentro do capô quando ligamos o motor do carro). Ele conseguiu se equilibrar naquele mini espaço que devia estar um forno, veio de Angra até ao Rio e não caiu na estrada!
Fomos logo com ele à veterinária, pois nós não acreditávamos que ele pudesse estar vivo e bem. Mas estava! Apenas muito sujo de óleo e poeira. .A veterinária disse que não era um machinho (Pepe), mas uma gatinha fêmea. Por isso foi rebatizada de Pepita. E que está linda! Esperta e engraçada, faz muitas tolices pela casa.
Estas são as histórias das nossas duas gatinhas, que adoramos e são as nossas grandes companheiras.
Apenas mais um adendo: a dona Ursula, uma senhora alemã ( idosa e magérrima), dona da Clínica veterinária onde tratamos as nossas gatas, sempre que levo a Pepita lá, conta esta espantosa história a todos os presentas na sala de espera, dizendo com o seu sotaque arrevesado " Nunnnca vi naaada ugual! Esssta gaatinnha já gastou uma das suas sete vidas... "
E eu acho que ela tem razão.
quarta-feira, 25 de dezembro de 2013
PALAVRAS e DATAS
Palavras... que são palavras? Apenas riscos negros numa folha branca. Que significam? Muitas vezes, extravasam Ódio. Outras, Amor. Indiferença. Esperança. Mentiras.
Palavras... que são palavras?
Nós, os ditos civilizados, comunicamo-nos através de palavras, faladas ou escritas. As faladas, muitas vezes são ditas sem pensar, no auge da emoção do momento e algumas vezes, até, nos arrependemos de as ter proferido.
As escritas são mais pensadas. Mais elaboradas. Escrevemos caracteres que podem transmitir ao papel ou ao computador emoções as mais variadas. Os poetas, escrevem palavras bonitas. Os religiosos, usam as palavras para dar um significado à finitude e ao vazio da vida. Os apaixonados, escrevem para jurar amor sem fim. Os políticos, dizem e escrevem palavras mentirosas, prometendo coisas que sabem, nunca vão cumprir.
Quando vejo na televisão as cenas reais, dantescas, das pessoas chorando porque perderam tudo com enchentes que se repetem, ano após ano, sem solução, ou se arrastam durante horas, às vezes dias, nas filas dos hospitais para serem atendidas - e logo em seguida, uns segundos depois, entra na minha sala, um anuncio pago na programação televisiva em que aparece a dona Dilminha ou outro político qualquer mentindo mais uma vez, dizendo as mesmas palavras mentirosas que ouvimos há anos, sempre as mesmas, descrevendo com sorridos falsos o muito que fizeram e prometendo, mais uma vez, o muito que vão fazer ( se continuaram na mamata...),dá-me raiva e vejo como as palavras são falsas. Soam a falso. São mentirosas. Mas enganam os trouxas ignorantes deste nosso Brasil, tão atrasado, que AINDA acreditam nessa gente.
Palavras...
E Datas?
Vocês já viram como é obrigatório as pessoas festejarem e estarem alegres no dia do seu aniversário? Mesmo que achem (como eu), que é uma data triste, porque mais um ano passou e mostra que temos a nossa vida encurtada, que é MENOS um ano para viver a nossa vidinha?
E o Natal? Festa da família! TODOS têm de estar alegres, com a família reunida... mesmo que haja na família pessoas que não dão alegria, muito pelo contrário, só criam problemas?
Mas vá você dizer isso a alguém... como pode? Se é Natal, festa da família, TODOS têm de festejar, estar em família ( mesmo com pessoas complicadas), comprar presentinhos, andar em correrias nas lojas, fazer comidinhas, as donas de casa vão ficar exaustas - mas têm obrigação de estar sempre sorrindo, contentinhas, porque é a data sagrada do Natal.! Quem pode querer que passe depressa, para voltar ao rame-rame normalzinho, calmo e feliz do dia a dia costumeiro? Ninguém! ( Mas eu posso...).
Datas...
Fora essas datas marcadas no calendário com o sinal de "Sorria, você faz anos"! Ou "Sorria, porque é Natal"! Você pode arranjar "datas" que não têm nada de importante marcado no calendário e são felizes, maravilhosas. Únicas. Inesquecíveis. Só para você.
Faça isso!
segunda-feira, 23 de dezembro de 2013
A minha mensagem de Natal
este ano
é tão pequenina...
que cabe numa linha
Não tem enfeites
música
texto floreado
lugares comuns
prosa vazia...
tudo cabe numa só linha
FAÇA ALGUÉM FELIZ!
(e você terá um Santo Natal)
Meus votos para 2014
são também tão simples...
apenas três palavras dizem tudo.
Que você e todos os seus tenham
SAÚDE PAZ e
AMOR
SAÚDE
para poder curtir a vida
PAZ para que a vida valha a pena
AMOR
porque é o eixo de tudo. TUDO gira em volta do amor!
Maria
de Lourdes Brandão
Para todos que amo, da minha família portuguesa e brasileira,
e também para todos os meus amigos, de além e aquém mar.
Um beijo carinhoso!
terça-feira, 17 de dezembro de 2013
A minha mensagem de Natal
este ano
é tão pequenina...
que cabe numa linha
Não tem enfeites
música
texto floreado
lugares comuns
prosa vazia...
tudo cabe numa só linha
FAÇA ALGUÉM FELIZ!
(e você terá um Santo Natal)
Meus votos para 2014
são também tão simples...
apenas três palavras dizem tudo.
Que você e todos os seus tenham
SAÚDE PAZ e
AMOR
SAÚDE para
poder curtir a vida
PAZ para que a vida valha a pena
AMOR
porque é o eixo de tudo. TUDO gira em volta do amor!
Maria
de Lourdes Brandão
quinta-feira, 14 de novembro de 2013
R0BERTO CARLOS
Conhecia-o só
da televisão. Mais um cabeludo, pensava. E detestava os seus programas
barulhentos, com um bando histérico de fãs gritando a cada gesto do seu ídolo.
Mas um dia surgiu a ideia de uma entrevista dele, exclusiva, para a Revista “O
CRUZEIRO”, onde eu trabalhava há pouco tempo (sob as ordens do grande
jornalista Joel Silveira). E fui indicada para fazê-la.
Lá fui eu,
procurando-o pelo Rio de Janeiro. Hotel Leme-Palace onde costumava hospedar-se, escritório do seu empresário,
casas de amigos, estações de T.V. Foi
difícil, mas encontrei-o e a entrevista foi marcada. Conversei com ele durante duas horas, no
camarim da T.V Rio, enquanto se
preparava para o programa dessa noite.
Este é o Roberto Carlos sem máscara que conheci.
Uns olhos
tristes. Um sorriso bonito de menino
assustado. Simples. Humano. Dois anéis
na mão direita: um de pedra azul, outro de pedra vermelha, que ele roda sem
parar e que usa apenas “porque gosta”. Um relógio moderninho num pulso, uma
pulseira de prata com o seu nome gravado
no outro. Vinte e quatro anos. Muita
sensibilidade. Um ar sofrido que impressiona.
Pálido. Preocupado que as olheiras não apareçam nas fotos. Educado. Atencioso.
Inteligente. Já milionaríssimo. Ídolo da Jovem Guarda.
Bom cantor. Bom compositor. Um homem que não tem direito à sua privacidade, que
não pode amar. Que nega tenazmente que
conhece uma certa Eunice e com ela se casou secretamente. Está pronto, até, a jurar sobre a Bíblia e a
apostar os seus salários até o fim do ano contra qualquer “charanga” legal,
como isso é mentira. (Mas muitos afirmam
que a Nice existe mesmo, tem 32 anos, é separada do marido e vive numa fazenda
nos arredores de São Paulo. Que os dois
se amam muito e até já tem um filho).
Roberto
Carlos. Um papo firme. Um grande coração, que comanda a jovem-guarda
carioca e paulista em campanhas
beneficentes de ajuda aos pobres. E que se define assim.
“Comecei a
namorar aos 12 anos. É, minha gente... fui precoce. Mas acho o casamento um
negócio muito sério. Tenho tido muitas namoradinhas. Sou romântico, sim senhor,
mas meus casos não vão para diante sempre por algum motivo... sei lá, talvez
porque tenho uma vida difícil... gênio. Talvez porque elas ficam com ciúme das
minhas fãs... mas gosto das minhas fãs. Tenho medo delas quando não estou no
palco. Nas ruas me assustam, mas durante o espetáculo gosto da vibração.”
Com os seus dedos grossos aperta um lápis com
força, enquanto na folha de papel sobre a mesa começa a aparecer um desenho.
E continua, como se estivesse pensando
alto. “Minha mãe me orienta e se preocupa com todos os setores da minha vida.
Concordamos quase sempre, mas ela me avisa cuidado,
meu filho, com essas mulheres... Acho que todas as mães dizem isso aos
filhos, não? Tenho dois irmãos mais velhos, um é sargento e o outro tenente
reformado do Exército. E uma irmã, casada. Todos são meus fãs... hum...sim...
eles gostam da minha música.”
Chama um
empregado, que passa. “Olha aqui, meu chapa, estou com uma fome danada. Quero
um sanduiche big e um guaraná, por favor. Mas onde estávamos? Sim... Adoro
crianças mas casamento... bem, com essa onda toda é melhor não dizer nada
agora. Se é chata a popularidade? Sim e
não. Chato é não poder andar por aí... ter
de frequentar lugares em dias incertos e horas especiais, ter de despistar os outros para ter alguns
minutos de paz.”
E depois de uma pausa. “ Mas eu vou levando...Nas horas vagas... mas
quais são elas? Gosto mesmo é de fazer música e pescar. Adoro rabiscar e de
outubro para cá, resolvi reunir em livro todos os meus rabiscos. Que bom,
chegou o meu sanduiche! Estou morrendo de fome!” Ataca com vontade o sanduiche misto, coitado,
cheio de fome, aturando uma jornalista chata e ainda tendo de enfrentar um show de horas. E pouco depois “Já viu o
meu terno militar que eu próprio desenhei? É como estão usando agora na Europa.
De casimira azul-marinho, com gola, punhos e botões de veludo vermelho.
Eu é que desenho todas as minhas roupas, sabe? Sou católico, sim. Bastante! Tenho fé em
Deus. E gosto de rosas. Democracia é um
negócio bacana. Comparar Estados Unidos e Rússia... bem, nunca estive lá, como
é que posso? Mas irei um dia, pois gosto de coisas novas, e tal... Sinto-me entusiasmado com o meu primeiro
filme, considero-o barra limpíssima!”
Ele afunda na cadeira, rosto abatido. Um menino cansado que
ainda tem longas horas de trabalho pela frente.
Passa a mão nos cabelos, olha-me bem nos olhos e continua. “Estou sempre
viajando. Adoro samba manso, aquele que a saudosa Silvinha Telles cantava. Sou GA-MA-DO pela bossa-nova que se canta baixinho.. .e gosto da música da
Velha Guarda. Noel, sou fã de Noel
Rosa. Tenho músicas minhas já gravadas
em italiano e inglês mas não sei bem disso... nunca as ouvi. Espero é que me paguem os direitos
autorais. Meu primeiro emprego foi
na COFAP e meu primeiro contrato... sabe
quanto eu ganhava? Cem cruzeiros novos por mês.
Não tenho competidores. Todos nós
podemos coexistir. Ronnie Von meu
rival? Que ideia! Ele tem um gênero, eu outro. Não tenho medo do futuro, mas me preocupo. Louras
ou morenas? Não tenho preferência... você me arranja cada uma! Gosto é de moças
inteligentes e de caráter... bem, e com outras qualidades, claro! Ainda é cedo
para falar de casamento, mas lá que perdia popularidade se me casasse... acho
que sim Se é triste ser um ídolo?
Talvez... mas gosto da minha vida. Levei 6 anos duros para chegar até aqui e
não vou mais parar. Gosto de ser Roberto Carlos, com todos os problemas do
ídolo. Não gostaria de ser outra pessoa.
sábado, 19 de outubro de 2013
Sobre o livro SABER ESPERAR, de Cristina
Brandão Lavender
Na página 21
do livro, lê-se:
“É preciso
relatar o passado/Viver o presente/Predizer o futuro”
Hipócrates
Por isso, vou até ao passado.
Nasci em Braga, numa família portuguesa (por
parte de pai), profundamente enraizada na sua terra. Era uma típica família portuguesa da época,
abastada, muito respeitada na cidade, em que os homens mandavam e as mulheres
obedeciam. Meus avós, que viviam na
Quinta da Calçada, na subida para o Bom Jesus do Monte, num casarão belíssimo
cercado de jardins onde a comida era deliciosa e sempre havia lugar para mais
um à mesa, tiveram um filho homem (meu pai) e três filhas mulheres. Minhas tias
casaram bem, por amor e com bons partidos. Meu pai apaixonou-se por uma brasileira,
linda e muito mimada, que tocava piano e violoncelo, filha única de um intelectual
brasileiro e de uma poetisa, e que depois do casamento, não gostou nada da
vidinha que se levava em Braga. Eu e meu irmão tivemos uma infância
maravilhosa, adorávamos a Calçada e crescemos brincando com os primos: três
meninos e oito meninas.
A vida foi passando, coisas se modificando,
nós todos crescendo. Meu primo Fernando – o mais velho dos rapazes, bonito e
muito bom - começou a namorar a Milena,
que estudava no Colégio Dublin, como eu. Eu ainda no primário, enquanto ela Sahiraterminava
o curso. E passei a ser o “correio”
entre eles, levando e trazendo as cartinhas de amor. A Milena era bonita, muito
inteligente, tinha um irmão e era filha de um senhor abastado que tinha terras
e negócios em S.Tomé e Príncipe, e uma quinta nos arredores de Vila Nova de
Famalicão, a residência da família em Portugal. Os dois casaram e lembro-me bem
da festa realizada na quinta, pois foi o primeiro casamento da família a que
assisti. E nesse dia, vi pela primeira e única vez o pai da noiva, o senhor
Brandão, um senhor sério e muito bem educado (que se calhar, até é descendente
de algum antepassado meu, pois os Brandões do lado do meu avô, Heitor Esteves
Brandão, são oriundos dessa região).
Desde pequena eu lia muito e escrevia, incentivada
pelos meus avós maternos que viviam com a gente, pois não quiseram afastar-se
da filha única. E enquanto na nossa casinha de Tenões havia um piano e muitos
livros, na Calçada a vida era alegre, comia-se e bebia-se maravilhosamente bem,
dançava-se ao som de um gramofone, rezava-se muito na capelinha, mas não havia
estantes nem livros.
Mais anos se passaram, eu casei com um
brasileiro e fui viver no Rio de Janeiro, onde os meus filhos nasceram.
Entretanto, todos os meus outros primos e primas casaram também e ficaram a
viver em Portugal com os seus filhos exceto o Fernando e a Milena, que foram
viver em S.Tomé e Príncipe a chamado do pai dela. E lá nasceu a filha caçula
deles – a Nicha – que eu só vim a conhecer muitos anos mais tarde, quando
voltei a viver em Portugal. Eles também foram obrigados a regressar, como
milhares de outros portugueses, quando começaram os movimentos e a violência
que antecedeu a independência das colônias, e radicaram-se em Braga. Nessa
época da minha vida eu já trabalhava há muitos anos como jornalista,
colaborando em jornais e revistas brasileiras e portuguesas e tinha livros
publicados. Um dia, a prima Milena mostra-me um caderno e diz-me “Lourdes, a
Nicha escreve muito... por favor, lê e dá a tua opinião.” Eu li e fiquei
impressionada com o que aquela adolescente já escrevia. Não me esqueci nunca
das minhas palavras “ essa menina vai longe!”
E ela foi.
O presente
De novo estamos separadas por um
oceano. Não revi ainda a
Cristina/mulher/mãe e avó (para mim sempre a Nicha), mas durante os últimos
meses, via Internet, acompanhei as crónicas que ela escrevia para um jornal de
Braga e os preparativos para o lançamento do seu livro de estreia, primeiro na
ilha verde onde nasceu, S.Tomé e Príncipe, depois em Braga, onde vive. Estava
curiosa, mas o exemplar autografado do SABER ESPERAR que mandou para o Rio de
Janeiro, só chegou ontem à minha casa. E eu li-o de um fôlego, varando a
madrugada, esse “livro desesperado, que mexe nas feridas, que volta a mexer nas
feridas – alternando entre crueza e carinho, brutalidade e ternura, tesão e
cumplicidade”, como muito bem diz no Prefácio, Pedro Chagas Freitas.
SABER ESPERAR é um livro que nos perturba e
tira o sono. A procura do verdadeiro eu da autora (haverá só um verdadeiro eu,
ou vários verdadeiros eus que se degladiam sempre?), o dilacerar da sua alma dividida e sofrida é tão profundo o doloroso, que nos faz sofrer
também. Cristina Brandão Lavender
(ou o seu alter-ego, Sahira) mergulha fundo no passado cheio de mistérios da
sua família, que marcou profundamente a sua infância e juventude. Ela procura respostas, ela quer desvendar
segredos, ela quer saber e tem medo, porque cada destino, cada vida, arrasta
atrás de si outras vidas, inocentes, que muitas vezes, sofrem e pagam por erros
que desconhecem.
Como todos os livros de estreia, SABER
ESPERAR tem muito de pessoal. É uma
catarse que quase levou a autora à loucura. Em seu anseio, nessas perguntas sem
respostas “ quem falar nisso morre”
(Massacre do Batepá, 3/fevereiro/1953), ela caminha pela vida pisando em
espinhos, em cacos de vidro que ferem e doem. E escreve... e leva-nos com ela
nessa viagem alucinante.
Essa agitação incontrolável, essa procura do
desconhecido que esgotam a autora levam –nos também, página após página, a
sofrer com ela. E temos de parar para respirar. Para procurar paz- a paz que
C.B.L não consegue encontrar. E por isso, escreve... usando não a mão sinistra,
a verdadeira, mas a outra. Ela escrevia
da direita para a esquerda, mas apanhou multas reguadas para aprender a
escrever ”direito”, como todo o mundo... – e mesmo assim, violentada desde os bancos da
escola, ela consegue transmitir ao papel, em negros caracteres, a sua agitação,
o seu desassossego. Como só os bons escritores conseguem.
Duas palavras diferenciam um verdadeiro
escritor de um escrevinhador: paixão e inquietação. E isso C.B.L. tem de sobra. Neste seu
primeiro livro nota-se a presença ostensiva do irracional da alma em relação à
vida real. É um rasgar, um pôr a nu as suas entranhas sem pejo, que assusta. É
uma luta permanente entre o ter e o ser. A procura desesperada pelo que podia e
devia ser. Mas não é. A não aceitação da
realidade. E nessa agitação angustiante, encontramos em algumas páginas uns
lampejos de paz. Raros. Ela fala da
beleza das camélias. Dos ursinhos da infância que ainda enfeitam a sua
cama. Diz que ama o silêncio das matas.
O pôr do sol numa tarde outonal.
Predizer o futuro
Quem pode predizer o futuro?
Não eu...
mas depois de ler o SABER
ESPERAR, vi que as palavras que disse há muitos anos atrás à minha prima Milena
sobre a sua filha, Nicha “ essa menina vai longe!”, se concretizaram. Nasceu uma escritora. Só desejo que ela continue a escrever outros
livros. Mais livros. Quem sabe um
romance passado entre Portugal e a ilha dos seus amores, S.Tomé e Príncipe? Que
ela encontre as respostas que procura. Que não se sinta enlameada pela culpa de
não poder ficar parada. Que desvende os
segredos que a asfixiam. Mas do fundo do meu coração, peço-lhe que domine esse
impulso doentio de autodestruição – que só os grandes escritores têm – mas que
me dá medo.
Um beijo e parabéns, querida Nicha.
Maria de Lourdes Brandão
( escritora e poetisa)
sexta-feira, 11 de outubro de 2013
O nosso coração
Ele bate...bate...bate... devagarinho, certinho
desde que nos conhecemos como gente
(mas dentro da barriga da nossa mãe
ele já batia devagarinho... certinho,
antes que a gente se conhecesse como gente)
Enquanto somos crianças ele bate alegre, alvoroçado
quando
descobrimos o mundo ao aprender a ler
ao ganharmos a primeira bicicleta,
o primeiro computador
sem saber ainda o que é sofrer
Depois, na adolescência,
ele bate...bate...bate... inquieto, agitado
vivendo intensamente novas emoções
nas labaredas incontidas do desejo
da volúpia, do prazer
E quando se encontra o amor?
É tão bom amar e ser amado! Viver um amor partilhado...
sentir a vida palpitando em nós,
as pancadas certinhas do coração
a paz tranquila do anoitecer
No auge de uma grande paixão
o coração descompassado bate... bate... bate...
adoidado
numa loucura total!
É o amor que o faz bater assim,
como um pássaro feliz e assustado
Mas um dia descobrimos mentiras. A dor da traição
E o coração ferido, desesperado,
perde o ritmo, quer parar de bater
desiludido, infeliz, asfixiado
pela erva daninha da desilusão
Precisamos reagir. Não perder a esperança. Lutar!
Temos de tratar do nosso coração
A solução? Frequentar uma Academia, controlar o peso
conhecer novas pessoas caminhar
e em pouco tempo ele recobra a alegria de pulsar
A vida continua... outros amores vêm. Passam-se os anos
Momentos alegres e tristes se sucedem
Acumulamos perdas, desilusões, vitórias, fracassos
- mas não
podemos perder nunca a alegria de viver
E o nosso coração lá vai batendo sempre devagarinho...
certinho...
até um dia. Em
que para
Maria de Lourdes Brandão
(escritora e
poetisa)
domingo, 6 de outubro de 2013
amor ao entardecer
não há palavras que possam descrever
o que é o amor ao entardecer...
a doçura
o fogo
a paixão
misturados com a angústia por ter
desperdiçado
tantos anos vazios, a sofrer
procurando a felicidade em vão
não há mais tempo a perder!
agora, cada minuto é uma eternidade
mágica
que se respira e bebe com sofreguidão
com medo do amanhã
por isso quero viver viver viver
intensamente!
esta realidade sonhada em tantos anos de
solidão
olhos nos olhos
corpos fundidos numa comunhão total
tanto física como espiritual,
choramos abraçados na descoberta do amor
beijos roubados
um olhar cúmplice
afagos
tudo novo intenso
irreal
não há palavras que possam descrever
o que é o amor ao entardecer...
Carta para uma amiga desconhecida
Não conheço você, amiga. Não sei a cor dos seus olhos. Do seu cabelo. A sua altura.
Sua idade? Pode ter cinquenta, sessenta, até setenta
anos – ou mais. E até menos. Mas conheço você bem, oh se conheço! Você é uma
mulher (como eu) e está vendo o tempo, inexorável, passar. Trazendo saudade de
muita coisa boa que viveu, lembranças alegres, mas também mágoas, perdas,
desilusões. De repente, você se dá conta
que já muita vida passou e não volta mais.
Que algumas escolhas que fez não foram as melhores. Que errou algumas vezes. Que se arrepende de atitudes que teve. Que
magoou pessoas.
E agora? Você está em pânico, os
pensamentos são confusos, olha para a frente e não sabe o que fazer – a partir
deste momento. Está sem rumo. Sem
objetivos. Desiludida. Entra em
depressão. Como reagir? Porque é PRECISO
reagir, amiga! Você pensa que só você
sabe o que está sentindo, que nenhuma outra mulher já se sentiu assim tão mal, tão
infeliz e desanimada como você está
neste momento da sua vida. Mas está errada, amiga. Erradíssima!
Porque eu sei exatamente o que isso é.
E como eu, centenas, milhares, posso até dizer milhões de mulheres, de
todas as nacionalidades, já passaram por
épocas assim tristes na vida.
Você tem de procurar ajuda,
amiga. Procure uma boa uma terapeuta a quem possa confiar os seus problemas, as
suas dúvidas. Mas tente, se puder, mudar imediatamente o rumo dos seus
pensamentos. Deixe de pensar que o seu problema, seja ele qual for, é o centro
do mundo e não tem solução. Porque só
não tem solução a morte. Pense antes
assim: o que não posso resolver é melhor esquecer. O que posso mudar, vou mudar já. E pense que a vida é um dom que recebemos e
temos de sorvê-la, saboreá-la intensamente e suavemente enquanto podemos.
Todos os dias, ao acordar, pense
na maravilha que é estar viva. Ter um novo dia para viver. Pense, por UM MINUTO
que seja, em quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar – vivas- e
morreram durante a noite. De doenças, em
hospitais, em acidentes, com uma bala perdida.
Para essas, tudo acabou durante a noite – e elas queriam tanto viver! Mas para você? Você está VIVA! E nesse dia que vai começar, tudo pode
acontecer a você. De bom. Até um novo
amor, que para amar não há idade limite. Pense nisso, amiga.
Comece uma nova fase na sua vida.
Enterre os problemas que a estão mortificando. Abra o seu pensamento para
coisas novas. Se puder e gostar, planeje uma viagem, vá numa excursão conhecer aquele
país ou aquela cidade que sempre sonhou conhecer. Se não puder, matricule-se num curso. Vá aprender informática, literatura, francês,
inglês. (Tenho uma amiga médica aposentada, com 72 anos, divorciada, filhas
casadas, que depois de atravessar uma
crise assim, resolveu aprender francês e já fez duas viagens á França,
matriculada em cursos de 3 meses cada.
Está feliz, fez novos amigos e
ainda vai voltar mais uma vez; agora o curso será em Nice, só para
conversar).
Tenho outra amiga que estava se
sentindo infeliz, a casa vazia depois que o filho único casou e foi trabalhar e
viver nos Estados Unidos. O que ela fez? Tornou-se voluntária e uma vez por
semana passa a tarde num Hospital, ajudando crianças com câncer. Você já pensou? Que problema você, eu ou qualquer
mulher deprimida pode ter, que resista ao ver uma criança que nem viveu ainda,
sofrer e morrer com um câncer incurável?
Querida amiga, pode ter certeza
de uma coisa. TUDO que você está sentindo hoje é passageiro. Vai passar. Não deixe que esses pensamentos negativos a perturbem por muito tempo. Reaja.
Prometo continuar a conversar com você. Combinado?
Um beijo da amiga
Maria de Lourdes
segunda-feira, 30 de setembro de 2013
Para pensar...
Há pessoas que gostam de movimento, barulho, agitação, música alta, confusão. Que só sabem viver e ser felizes se estiverem cercados de outras pessoas - e de muito barulho!
Em geral são pessoas que não sabem escutar os outros. Que não gostam de pensar. Que são incapazes de ler um bom livro. De ficarem em silêncio. De pararem, de vez em quanto, para se olharem "por dentro."
Ser alegre é bom. Viver a vida com alegria, uma benção. Mas não conseguir parar para pensar, é ruim. Uma pessoa depender dos outros para se sentir bem, não se bastar a si próprio, é complicado. Porque às vezes tem de pagar caro para ter uma companhia e em se tratando de mulheres maduras, então, mais complicado ainda ( os garotões estão por aí, sempre à espreita dessas presas fáceis).
E não são só as mulheres maduras, os senhorzinhos carecas e barrigudos também pagam caro para ostentar ( e levar para a cama, com a ajuda do Viagra), as periguetes que podiam ser suas filhas ou netas.
Vivemos num mundo de agitação frenética. Tudo tem de ser " para ontem". As pessoas ( de todas as idades), vivem agarradas aos celulares de alto preço, a fotografarem tudo - sem olhar e apreciar a paisagem que fotografam!- a mandar e a receber mensagens de minuto em minuto, ligadas ao mundo da internet e esquecendo o mundo real que as cerca.
Valerá a pena viver assim?
domingo, 29 de setembro de 2013
Nuvem cinzenta
(Poema do meu livro " O Suspirar do Tempo", escrito em Angra dos Reis num dia cinzento, mas lindo!)
Uma nuvem cinzenta avança, devagar,
e cobre as montanhas o céu o mar
De repente,
o mundo perdeu contornos. Ficou cinzento
Na baía de Angra dos Reis,
os veleiros balançam embalados pelo vento, cinzento
O mar, que era azul, ficou cinzento
As ilhas desapareceram numa neblina incolor
O fog londrino invadiu os trópicos
numa nuvem paralizante, cinzenta
Num céu cinzento,
estala uma tempestade tropical
Raios trovões chuva
e eu, muda, a viver este instante irreal
Chove cinzento
Tudo é nevoento, sem significado...cor
O mundo parou neste minuto unico belo cinzento
que vivi até à loucura possível do entendimento,
mergulhada na angústia e no sofrimento. Com dor
Sentindo o indiferente passar do tempo...
quinta-feira, 26 de setembro de 2013
Recebi de um escritor e crítico português, Cláudio Lima, autor
de vários livros de sucesso, um e-mail que muito me sensibilizou. Diz ele:
“Visitei o seu Blog.
E nele encontrei a mulher forte e inteligente que de há anos tenho o
privilégio de conhecer e admirar, Você
expõe aqui pedaços de vida, evocações gratificantes e outras nem tanto, de um
peregrinar pelo mundo físico e também por esse outro, interior, onde se
armazenam e sedimentam os incidentes de percurso. É um exercício catártico salutar, que espero
não venha a degenerar em obsessiva autoflagelação. A sabedoria de envelhecer, desde o velho
Cícero, é o melhor pecúlio que podemos amealhar nos verdes anos. Rugas? As da
pele serão fatalidade, as da alma são abdicação. Essas, a Maria de Lourdes não tem. Este espaço de memória e partilha vai ter,
estou certo, um efeito libertário e um amplo convite à permuta de vivências”.
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Pessoas que passaram pela minha vida
Vivemos na época das verdades serem ditas, de se descobrirem muitos segredos do passado em relação à epoca da ditadura militar. Para isso funciona, acho que mal, uma Comissão da Verdade.
Por essa razão vejo muitas vezes no jornal o retrato de um jovem magro que foi barbaramente torturado nessa época triste, dado como desaparecido e que sabemos agora, foi assassinado com requintes de crueldade. Trata-se de Stuart Edgar Angel Gomes, mais conhecido como Stuart Angel, guerrilheiro que consideravam perigoso e por isso o mataram.
Conheci Stuart Angel nos idos de 1967/68, porque tive a honra de conhecer e ser amiga da sua mãe, a estilista Zuzu Angel.
Stuart era um jovem muito educado, calado, que me cumprimentava com um beijinho quando por acaso entrava na casa da sua mãe, na Praça da Paz (onde Zuzu tinha o seu atelier e recebia as suas clientes) e eu estava lá, na sala. Nunca, jamais, poderia imaginar, que já talvez nessa época Stuart conspirasse contra os governantes militares. E penso que também a sua mãe nunca imaginou isso!
Zuzu era uma doce mulher, fina, educada, divorciada de um americano e que vivia para o seu trabalho e para os seus filhos. Conhecia-a quando a entrevistei para a Manchete e depois disso, sempre que precisava de ilustrar uma reportagem de moda com um bonito modelo, recorria a ela, e era a Zuzu que fornecia o modelo e a manequim para as fotos. Roupas que eram sempre lindas e elegantes. Por isso ficamos amigas e até comprei, nela, alguns vestidos para mim.
Durante os nossos papos, soube que uma das suas filhas queria ser jornalista.. Depois que a conheci, conversamos muito e ela me pedia conselhos. Apresentei-a a Nina Chaves, colunista social de O GLOBO na época, e ela começou aí a sua carreira -tornando-se mais tarde famosa, como Hildegard Angel.
Zuzu era minha amiga e nunca esquecerei este facto: Quando fui escolhida, em companhia das jornalistas Nina Chaves, Helena Brito Cunha, Lea Maria, Maria Claudia ( e outras duas que não me lembro o nome) , como fazendo parte do grupo de jornalistas que naquela época ocupavam lugar de destaque na imprensa carioca, ela fez questão de fazere (e oferecer) a roupa com que fui fotograda. E que era um lindo kaftan de seda estampada em tons outonais, com botõezinhos e debruns dourados,
uma das roupas mais chics que tive na minha vida.
Depois, em 1969, minha vida mudou e passei a viver em Portugal, na cidade do Porto. E lá acompanhei, à distância, a dor e o sofrimento de Zuzu com o desaparecimento do filho querido, depois a sua luta para desmascarar os assassinos. Quando soube da sua morte, chorei. Também ela foi assassinada.
Tudo isto me veio à lembrança, quando vi há dias, no jornal O GLBO, uma foto daquele rapazinho magro que conheci e passou pela minha vida. Ele e a sua mãe.
terça-feira, 17 de setembro de 2013
A VIDA E A OBRA
Maria de Lourdes Nunes de Sá
Esteves Brandão de Almeida – que assina
os seus livros como Maria de Lourdes
Brandão - nasceu em Braga, Portugal, filha de mãe brasileira e pai português.
Seus avós paternos eram
portugueses – o avô, Veríssimo Martins de Almeida dono da maior fábrica de
chapéus de Portugal e da Quinta da Calçada, em Braga, onde M.L. viveu até aos
15 anos.
Seus avós maternos, que
muito a influenciaram, eram escritores:
Ela, Estela Nunes de Sá, poetisa,
com vários livros publicados, nasceu no Porto e foi a primeira senhora de sociedade a
escrever colunas semanais em jornais
portugueses; ele, Heitor Esteves Brandão, brasileiro, nasceu no Rio de Janeiro e era neto do
comendador Antonio Manoel Esteves, figura proeminente na região do Vale do Café,
dono de cinco fazendas (a maior, a
Fazenda de Santo Antonio do Paiol), que
foi um dos principais patrocinadores da construção da Estrada de Ferro
Valenciana – a primeira linha férrea de bitola estreita do Brasil.
O pai de Heitor Esteves
Brandão, António José de Faria Brandão, era um
homem de vasta cultura e foi
convidado por Ruy Barbosa para integrar o seu governo. Heitor
Esteves Brandão era um estudioso de Camilo Castelo Branco – e deixou vasta
obra.
·
M.L., aos doze anos, editou um jornal no colégio em que estudava e
publicou
o seu primeiro livro: DEDICAÇÃO.
·
Aos 15 anos a sua família radicou-se no Rio de Janeiro e sua mãe optou
pela
nacionalidade brasileira para os filhos. Por isso
M.L. se considerou sempre uma autên-tica luso-brasileira, com sangue
português e brasileiro nas veias e duas Pátrias que ama de igual modo.
·
No Rio de Janeiro continuou os seus estudos, cursou Jornalismo e fez o
seu
estágio no jornal Washington Post. Viveu dois anos nos E.U.A. , onde aprimorou o
seu inglês.
·
1954- De regresso ao Rio ingressou na Revista Mundo Ilustrado, dirigida
por
Joel
Silveira, onde trabalhou durante
alguns anos fazendo entrevistas. Fazia uma crônica semanal, também, no Diário de Notícias. De lá passou para O Cruzeiro e revista A
Cigarra. Anos mais tarde ingressou na equipe das Organizações Bloch, colaborando
nas revistas Manchete, Pais e Filhos e Ele & Ela. Mantinha uma coluna
diária no jornal Tribuna da Imprensa e semanais na Voz de Portugal, O
Liberal (Pará) e jornais portugueses.
·
1964 - Foi escolhida uma das melhores jornalistas do Brasil pelas
entrevistas
feitas com personalidades famosas como a rainha
Elisabeth da Inglaterra, o Imperdor Hirohio, do Japão, Amália Rodrigues, Yma
Sumac, Martine Carol, Brigitte Bardot, Yvo Pitanguy e muitos outros.
Nesse ano foi convidada a ir
a Portugal assistir à inaugração da Ponte Salazar
sendo
recebida por ministros e autoridades.
O
deputado Levy Neves, em Ofício da Perfeitura
do Rio de Janeiro, referiu-se a M.L. e ao seu trabalho de intercâmbio
cultural entre Portugal e Brasil, nestes termos:”se existisse o título de
embaixatriz da Comunidade Luso-Brasileira, esse título pertencia-lhe, por
direito.”
·
1966 - Sai o livro Mulheres Portuguesas do Brasil, de Beatriz Tovar,
onde
ocupa lugar de destaque.
·
1967- Integra a Associação Brasileira de Jornalistas e Escritores de
Turismo e
viaja muito. Publica poesias em jornais e revistas. A convite de Gilson Amado apresenta na TV-9 um programa cultural.
·
1968 – Organiza a Exposição Presença de Portugal no Pavilhão de São
Cris-
tóvão e publica o seu livro PRESENÇA DE
PORTUGAL ( uma seleção das crônicas que ao longo dos anos escreveu em
jornais portugueses e brasileiros). Este livro esgotou em poucos dias.
·
1969 – Promove no Real Gabinete de Leitura cursos de Arte e Literatura
para
universitários, que são assistidos por
centenas de jovens. Entre os professores
convidados, a dra. Maria de Lourdes Belchior, o prof. Arnaldo Saraiva e o prof.
Robert Smith.
·
1970 – Vai a Portugal enviada pela revista Manchete e consegue
entrevistar o
prof.
Oliveira Salazar, tendo conversado com ele por duas vezes. Teve de fugir à PIDE, que segregava o
ditador. Este verdadeiro furo jornalístico
(pois em 40 anos como primeiro-ministro de Portugal o ditador só tinha
concedido uma entrevista), saiu no
jornal francês Le Monde e na Voz de Portugal. Os portugueses só leram esta
entrevista em 1984, já depois da Revolução dos Cravos. O livro O ADEUS DE SALAZAR AOS PORTUGUESES só
na noite do lançamento, no Porto (em 1983),
vendeu mais de mil exemplares.
Em 1970 M.L. fixa residência em Portugal, no Porto,
passando a dividir a vida entre as suas duas Pátrias.
·
1971 – Pelo seu artigo Cascais-1970 ganha o prêmio JUNTA de TURISMO
da COSTA do
SOL, conferido ao melhor artigo escrito
sobre Portugal no estrangeiro.
·
Passa a colaborar nos jornais portugueses O Comércio do Porto, O País,
Matosinhos Hoje, Jornal da Maia, O Tempo, A Capital
e na revista cultural Sol XXI. Continua a colaborar em jornais do Rio. Entra
para a Sociedade de Língua Portuguesa, Autores de Braga, Grupo de Estudos
Brasileiros do Porto, Sociedade Portuguesa de Autores.
·
1982- Inicia no jornal O COMÉRCIO do PORTO uma campanha de ajuda
aos moradores pobres do Bairro da Sé, desabrigados
pelas chuvas. Esta campanha chega à
Assembléia da República. Os deputados
concedem uma verba alta que permite a 156 famílias receberem novas moradias e
iniciarem uma vida decente. M.L.,
durante dois anos, dedicou a sua vida a estas pessoas, conseguindo internação
para velhos e doentes, creche, escola e
livros para as crianças, tratamento para
viciados em drogas, trabalho para jovens.
·
1983 – Lança o seu livro O ADEUS de SALAZAR aos PORTUGUESES, em
Portugal e no Brasil. Faz conferências em escolas e
universidades de países de língua portuguesa
sobre o tema A LÍNGUA PORTUGUESA.
* 1984/1994 – Durante estes
10 anos, M.L. trabalha intensamente como jornalista, assinando colunas diárias
e semanais em vários jornais de Portugal e Brasil.
* 1994 - Lança o seu livro
de poesias VIVÊNCIAS em várias cidades de Portugal,
no Brasil e na
Espanha. O livro esgotou e recebeu boas
críticas, até na França. Poesias foram
traduzidas para o espanhol por Hector Pastorin e publicadas na Argentina e Uruguay.
E e em inglês, nos E.U.A e na Austrália. São feitos programas culturais de
rádio e TV em Portugal e no Brasil
com poesias suas, declamadas. O compositor
e cantor Paulo Girão musica 12
poesias e grava uma cassete e um CD
experimentais, a que chamou CANÇÕES LUSO-BRASILEIRAS, para oferecer a
gravadoras.
*1995 - É convidada a
integrar a Academia Nacional de Letras e Artes, Acade-
mia Luso-Brasileira de Letras, Academia de Letras do
Estado do Rio e International Writers Association (E.U.A).
Participa
da Antologia Poética Del Secch´y e da Antologia de Contos da Editora Sol XXI.
Foi convidada a participar e
ler seus poemas no III Congresso Internacional de Literaturas Lusófonas que se
realizou em Santiago de Compostela, na Espanha.
·
1996 - Organiza e lança em Portugal e no Brasil a ANTOLOGIA de POETAS
PORTUGUESES e BRASILEIROS, que reuniu 25 poetas
portugueses e 25 brasileiros. Esta
Antologia, que esgotou em poucos dias, esteve no Pavilhão de Portugal na 14ª
Bienal Internacional do Livro de São Paulo.
É
entrevistada pela TV Portuguesa Canal 1, RTP Internacional, C.N.T., Canal 9 do
Brasil, rádios Guanabara, Nacional e Cidade do Rio de Janeiro.
·
1997 – Lança em Portugal, no Brasil, na Argentina e em Macau o seu
livro de
poesias O SUSPIRAR do TEMPO, já em 2ª Edição. Este livro teve apoio das Câmaras de
Guimarães e Vila Nova de Famalicão.
·
1998 – Assumiu o lugar de diretora da Revista Internacional da
Lusofonia –
NÓS (Brasil),
vai a Buenos Aires, a convite do Instituto Camões, participar, como conferencista,
do V Encontro Internacional de Língua e Cultura Lusófonas e apresenta o
trabalho” O Português - Língua da Lusofonia - passado, presente, desafios a
vencer no III Milênio.”
·
1999 – Sai o seu sexto livro e primeiro romance A SINFONIA DO DESTINO,
lançado em Portugal e que recebeu boas críticas.
* Entra em três Antologias
de poesia brasileira: Coquetel de Saudade, Saciedade de Poetas Vivos, O Amor em
Prosa e Verso. É entrevistada pelo Canal
G.N.T da Globo para a RTP Internacional, programa A Viagem de Volta, de uma
hora, que passou em todos os países de língua portuguesa.
·
2001 – Termina o seu segundo romance E NO MEIO... O MAR, uma história
passada entre
Portugal e Brasil, escrito em duas versões: uma brasileira e uma
portu-guesa. O romance está pronto para ser publicado.
E começa outra fase da
sua vida, a velejar na Baia da Ribeira e a disputar regatas em Angra dos Reis,
no veleiro Norne.
* 2002 – Termina a narrativa infantil OS PÁSSAROS NÃO TÊM
PÁTRIA, com Prefácio da Dra. Maria da Luz de Deus, neta do grande poeta João de
Deus e Presidente da Associação de Jardins-Escolas João de Deus, que diz: ...”este livro deveria estar,
obrigatoriamente, em todas as escolas, porque estimula a beleza e a harmonia do
ambiente.” “ Eis um original e belo livro...
Cabe-lhe um grande espaço! Penso
que o preencherá com sucesso.”(Este livro
ainda não foi publicado).
·
2003 – Participa da Antologia S O S NATUREZA, organizada pela Academia
de Letras do Rio Grande do Sul com os poemas Perdão, Meu Deus! E Angra dos Reis.
·
Em outubro, participa da XXIV Convenção
do Elos Internacional da
Comunidade
Lusíada realizada no Rio de Janeiro, apresentando o trabalho “O Português,
Língua da Lusofonia – Desafios a vencer no III Milênio” e é convidada pela
Presidente Internacional desse organismo, Professora Maria Araújo Barros de Sá
e Silva, a ocupar o cargo de 1ª Secretária durante o biênio 2003/2005.
O
veleiro Norne é campeão em inúmeras regatas, e Maria de Lourdes e seu marido,
Manfred Tonndorf, são citados como
exemplos de desportistas, apesar da idade.
·
2004 - Dia 3 de junho, a convite do Comodoro do Iate Clube de Angra dos
Reis, lê a sua poesia” Angra dos Reis” na sessão
solene realizada na Câmara Municipal
dessa cidade, sendo muito aplaudida por todos os vereadores presentes. Um
Troféu com esta poesia foi entregue ao Dr. Mário Márcio da Costa Lemos,
secretário de Planejamento e Meio Ambiente, que disse “esta poesia é mais
bonita que o hino da cidade.”
·
Em 30 de junho termina o CD AMOR e SAUDADES,” um encontro
musical entre
Portugal e Brasil”, 11 poesias suas, musicadas e cantadas por Paulo César
Girão. Este CD em 1998 foi aprovado
em Brasília pelo Ministro de Estado da
Cultura Francisco Weffort e declarado merecedor de INCENTIVO CULTURAL. O lançamento realizou-se dia 14 de setembro no Palácio São
Clemente, no Rio de Janeiro, com apoio da Embaixada de Portugal, inserido no
grande evento luso-brasileiro PORTUGAL CARIOCA. Estiveram presentes mais de 200
pessoas, que aplaudiram as atrizes de televisão Berta Loran, Arlete Sales,
Sylvia Bandeira e Ana Paula Martin, que declamaram algumas poesias. Maria de Lourdes foi entrevistada
pelo canal GNT e esta entrevista foi
vista por milhões de portugueses e brasileiros espalhados pelo mundo. O CD, que
foi muito elogiado pela crítica, foi também lançado em Portugal, no mês de
outubro, nas cidades de Lisboa e Faro.
* 2005
- Em abril, Maria de Lourdes aceitou o cargo
de vice-presidente do Elos
Clube do Rio de Janeiro a
convite do deputado Dr. Eduardo Neves Moreira, eleito novo presidente para o
biênio 2005/2007.
* Em 13 de setembro faz palestra no
Restaurante Terracota do South American Copacabana Hotel, a convite do Elos
Clube do Rio de Janeiro. Tema: O AMOR-
Grandes Amores/Grandes Paixões. Na História, na Literatura, na Vida.
* Participa da Enciclopédia ELISTAS ESCREVEM
III, organizada pelo Elos Clube de Londrina em homenagem aos 46º Aniversário do
Elos Internacional, com a poesia Canto
de Amor à Vida.
* 2006-
Participa da Convenção Internacional do Elos Clube realizada em Faro, como
Primeira Secretária Internacional.
·
2007 – De 18 a
21 de outubro, participa da Convenção Internacional do Elos
Clube, realizada em Niterói no Teatro Oscar
Niemeyer. É condecorada pelo Dr.
Arménio Vasconcelos com a medalha “Centenário de Miguel Torga”, nº
029 , “pelos relevantes serviços prestados à Língua Portuguesa e à Cultura
Lusófona”. ( O Governo Português fez 100 medalhas comemorativas do Centenário
do grande escritor ( 1907-2007 ),
todas numeradas, que foram oferecidas a diversas personalidades, acompanhadas
de um Diploma).
·
2008 –Em fim de agosto, nos Estados Unidos da América, veleja durante oito
dias e oito
noites (192 horas) nos Grandes Lagos, em Michigan, a bordo do veleiro Maresia.
A viagem, de Northport a Detroit teve tantas peripécias, que Maria de
Lourdes escreveu um diário. “Uma
Aventura nos Grandes Lagos” saiu publicado no
Brasil e foi traduzido para o inglês.
* Em
28 de novembro, recebe o Diploma de ”Acadêmico”numa bela cerimônia realizada no
Teatro de Angra dos Reis e passa a
integrar os quadros do Ateneu Angrense de Letras e Artes.
* 2009-
Em outubro, sai no Rio de Janeiro o seu romance E no MEIO... o MAR, numa
pequena edição. Este romance, de 417
páginas, que Maria de Lourdes tinha escrito em duas versões, a portuguesa e a
brasileira, foi revisto e reescrito segundo o novo Acordo Ortográfico
Luso-Brasileiro.
·
2011 - Dia 9 de agosto (dia do aniversário de sua mãe), Maria de
Lourdes reuniu na sua residência cerca de 50 pessoas, só família e amigos
íntimos, para oferecer a todos um exemplar do seu novo livro, A HISTÓRIA da MINHA FAMÍLIA. Para
escrever este livro, com 293 páginas e muitas fotografias antigas, Maria de
Lourdes precisou de três anos para pesquisar documentos, tanto em Portugal como
no Brasil. A história das famílias Pimentel, Esteves, Brandão e Almeida, está
toda ali, desde 1871 até novembro de 2010 – quando terminou de o escrever.
·
2013 – Dia 20 de março a partir das 19 Horas, foi lançado na Livraria
da Travessa, no Shopping Leblon – Rio de Janeiro, o seu último livro MOMENTOS –
poesias. Trata-se de uma edição da
Editora APED, que tem Prefácio do poeta e crítico português Cláudio Lima.
A declamadora Neide Barros
Rego declamou algumas poesias do livro. Presentes mais de 200 pessoas.
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