domingo, 6 de outubro de 2013


Carta para uma amiga desconhecida

 

Não conheço você, amiga.  Não sei a cor dos seus olhos.  Do seu cabelo. A sua altura.

Sua idade?  Pode ter cinquenta, sessenta, até setenta anos – ou mais. E até menos. Mas conheço você bem, oh se conheço! Você é uma mulher (como eu) e está vendo o tempo, inexorável, passar. Trazendo saudade de muita coisa boa que viveu, lembranças alegres, mas também mágoas, perdas, desilusões.  De repente, você se dá conta que já muita vida passou e não volta mais.  Que algumas escolhas que fez não foram as melhores.  Que errou algumas vezes.  Que se arrepende de atitudes que teve. Que magoou pessoas. 

E agora? Você está em pânico, os pensamentos são confusos, olha para a frente e não sabe o que fazer – a partir deste momento.  Está sem rumo. Sem objetivos. Desiludida.  Entra em depressão.  Como reagir? Porque é PRECISO reagir, amiga!  Você pensa que só você sabe o que está sentindo, que nenhuma outra mulher já se sentiu assim tão mal, tão infeliz e desanimada como você está  neste momento da sua vida. Mas está errada, amiga.  Erradíssima!  Porque eu sei exatamente o que isso é.  E como eu, centenas, milhares, posso até dizer milhões de mulheres, de todas as nacionalidades, já  passaram por épocas assim tristes na vida.

Você tem de procurar ajuda, amiga. Procure uma boa uma terapeuta a quem possa confiar os seus problemas, as suas dúvidas.  Mas tente, se puder,  mudar imediatamente o rumo dos seus pensamentos. Deixe de pensar que o seu problema, seja ele qual for, é o centro do mundo e não tem solução.  Porque só não tem solução a morte.  Pense antes assim: o que não posso resolver é melhor esquecer.  O que posso mudar, vou mudar já.   E pense que a vida é um dom que recebemos e temos de sorvê-la, saboreá-la intensamente e suavemente enquanto podemos.

Todos os dias, ao acordar, pense na maravilha que é estar viva. Ter um novo dia para viver. Pense, por UM MINUTO que seja, em quantas pessoas gostariam de estar no seu lugar – vivas- e morreram durante a noite.  De doenças, em hospitais, em acidentes, com uma bala perdida.  Para essas, tudo acabou durante a noite – e elas queriam tanto viver!   Mas para você? Você está VIVA!  E nesse dia que vai começar, tudo pode acontecer a você.  De bom. Até um novo amor, que para amar não há idade limite. Pense nisso, amiga.

Comece uma nova fase na sua vida. Enterre os problemas que a estão mortificando. Abra o seu pensamento para coisas novas. Se puder e gostar, planeje uma viagem, vá numa excursão conhecer aquele país ou aquela cidade que sempre sonhou conhecer.  Se não puder, matricule-se num curso.  Vá aprender informática, literatura, francês, inglês. (Tenho uma amiga médica aposentada, com 72 anos, divorciada, filhas casadas, que  depois de atravessar uma crise assim, resolveu aprender francês e já fez duas viagens á França, matriculada em cursos de 3 meses cada.  Está feliz, fez novos amigos  e ainda vai voltar mais uma vez; agora o curso será em Nice, só para conversar). 

Tenho outra amiga que estava se sentindo infeliz, a casa vazia depois que o filho único casou e foi trabalhar e viver nos Estados Unidos. O que ela fez? Tornou-se voluntária e uma vez por semana passa a tarde num Hospital, ajudando crianças com câncer.  Você já pensou? Que problema você, eu ou qualquer mulher deprimida pode ter, que resista ao ver uma criança que nem viveu ainda, sofrer e morrer com um câncer incurável?

Querida amiga, pode ter certeza de uma coisa. TUDO que você está sentindo hoje é passageiro. Vai passar.  Não deixe que esses pensamentos negativos a  perturbem por muito tempo.  Reaja.  Prometo continuar a conversar com você. Combinado?

Um beijo da amiga

Maria de Lourdes

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