segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Pessoas que passaram pela minha vida
Vivemos na época das verdades serem ditas, de se descobrirem muitos segredos do passado em relação à epoca da ditadura militar. Para isso funciona, acho que mal, uma Comissão da Verdade.
Por essa razão vejo muitas vezes no jornal o retrato de um jovem magro que foi barbaramente torturado nessa época triste, dado como desaparecido e que sabemos agora, foi assassinado com requintes de crueldade. Trata-se de Stuart Edgar Angel Gomes, mais conhecido como Stuart Angel, guerrilheiro que consideravam perigoso e por isso o mataram.
Conheci Stuart Angel nos idos de 1967/68, porque tive a honra de conhecer e ser amiga da sua mãe, a estilista Zuzu Angel.
Stuart era um jovem muito educado, calado, que me cumprimentava com um beijinho quando por acaso entrava na casa da sua mãe, na Praça da Paz (onde Zuzu tinha o seu atelier e recebia as suas clientes) e eu estava lá, na sala. Nunca, jamais, poderia imaginar, que já talvez nessa época Stuart conspirasse contra os governantes militares. E penso que também a sua mãe nunca imaginou isso!
Zuzu era uma doce mulher, fina, educada, divorciada de um americano e que vivia para o seu trabalho e para os seus filhos. Conhecia-a quando a entrevistei para a Manchete e depois disso, sempre que precisava de ilustrar uma reportagem de moda com um bonito modelo, recorria a ela, e era a Zuzu que fornecia o modelo e a manequim para as fotos. Roupas que eram sempre lindas e elegantes. Por isso ficamos amigas e até comprei, nela, alguns vestidos para mim.
Durante os nossos papos, soube que uma das suas filhas queria ser jornalista.. Depois que a conheci, conversamos muito e ela me pedia conselhos. Apresentei-a a Nina Chaves, colunista social de O GLOBO na época, e ela começou aí a sua carreira -tornando-se mais tarde famosa, como Hildegard Angel.
Zuzu era minha amiga e nunca esquecerei este facto: Quando fui escolhida, em companhia das jornalistas Nina Chaves, Helena Brito Cunha, Lea Maria, Maria Claudia ( e outras duas que não me lembro o nome) , como fazendo parte do grupo de jornalistas que naquela época ocupavam lugar de destaque na imprensa carioca, ela fez questão de fazere (e oferecer) a roupa com que fui fotograda. E que era um lindo kaftan de seda estampada em tons outonais, com botõezinhos e debruns dourados,
uma das roupas mais chics que tive na minha vida.
Depois, em 1969, minha vida mudou e passei a viver em Portugal, na cidade do Porto. E lá acompanhei, à distância, a dor e o sofrimento de Zuzu com o desaparecimento do filho querido, depois a sua luta para desmascarar os assassinos. Quando soube da sua morte, chorei. Também ela foi assassinada.
Tudo isto me veio à lembrança, quando vi há dias, no jornal O GLBO, uma foto daquele rapazinho magro que conheci e passou pela minha vida. Ele e a sua mãe.
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Todos nós tivemos pessoas queridas e marcantes que passaram por nossas vidas e deixaram suas marcas. Texto bastante reflexivo,
ResponderExcluirÉ verdade, Cristina!
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