segunda-feira, 10 de março de 2014


“VISÕES – penso que vi, em 20 e 25 enredos”

por Gomes Santos.

 

Gomes Santos é um senhor que tem barba e cabelos brancos, jovem nos seus 80 anos, inteligente, culto e viajado, que aprecia bons vinhos, o mar e  dá valor à amizade.”

Um carioca encadernado em português” - como se auto intitula - nasceu no Brasil, filho de portugueses, possui dupla cidadania, ama Portugal e o Brasil. “Não sabe direito para onde olha e gosta, dois continentes, sempre coisas diferentes... “- confessa.

 Ele sabe usar o computador.  Não é um analfabeto nessas lides, como a maioria dos idosos.  E sabe escrever.  Diz ele que ”pensa que viu”...mas  essas VISÔES passou-as para o papel.  E ao apagar das luzes em 2013, resolveu fazer uma surpresa a um reduzido grupo de amigos: ofereceu-lhes de presente essas visões, reunidas em dois livrinhos, escritos, ilustrados e encadernados por ele.

Eu fui uma dessas felizardas. Tive o prazer de degustar, como a um bom vinho, as palavras que Gomes Santos escreveu nas suas horas de ócio produtivo. Ele soube,  como poucos, preencher o tempo nesta fase da sua vida. Das páginas de VISÕES selecionei alguns pedacinhos.  Pensamentos? Poemas? Não sei. Sei apenas que são sábios alguns, amargos, outros. De muita beleza e sensibilidade, todos.

Diz ele,

Em  Artesão

“Desperdícios minimizam, tecem cadeias,

 Oferecem à espécie, que nada espera,

Deleite aos olhos, conforto à vida,

Aproveitam desta, os melhores momentos.” 

 

E mais adiante.

No mundo conturbado agruras passam batidas.”

 Será que passam, amigo?  Ou ficam e deixam cicatrizes?

Numa viagem a Portugal, no Cabo da Roca.

“Aqui,

no Cabo da Roca,

o mar renova sonhos,

o sopro atiça vidas,

a nuvem apaga sinas.

Descortina-se o amanhã.”

 

Mais adiante

“...O intelectual disse: uma boa digestão, para o idoso,

é tudo, felicidade.”

Ele não concorda. E afirma.

...“O corpo demanda pouco, a mente aspira

mais e com o passar dos anos, doses cada vez

 maiores, ....mais do que o alimento é o caso,

bem querer, amar.

Sempre a precisar mais!”

Concordo com você, Gomes Santos.

Numa hora de melancolia, escreveu.

...Angústia a sufocar, ei-lo diferente,

Retroceder, ao antigo viver incapaz...”

Uma confissão.

...”Aos oitenta,

talvez esguio, pobre de calças engomadas  e,

Deus o livre de ameaças, reumatismo e frio,

apetece saltar fronteiras,

sem peias...”

Foi o que você fez, amigo.  E muito bem!

 

Numa das últimas páginas.

É amizade, de ontem, hoje e sempre.

Enfim, tudo para conservá-los....”

Outro em Fazer versos.

Dizer o que vale a pena ler,

soltar o trivial, verso e rima

no essencial permanecer, não é fácil.

Trabalho, imaginação, certo domínio

 da língua, inspiração. Adoçar pílula poética,

Vários tentam, alcançam poucos, inclusive este.”


Não concordo. Você, Gomes Santos, alcançou. Conseguiu. Parabéns, amigo.  Continue a ter VISÕES e a dar-nos a honra de as partilhar com você.

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