“VISÕES – penso que vi, em 20 e 25
enredos”
por Gomes
Santos.
Gomes Santos é um senhor que tem barba e cabelos brancos,
jovem nos seus 80 anos, inteligente, culto e viajado, que aprecia bons vinhos,
o mar e dá valor à amizade.”
“Um carioca encadernado em português” - como se auto intitula -
nasceu no Brasil, filho de portugueses, possui dupla cidadania, ama Portugal e o
Brasil. “Não sabe direito para onde olha e gosta, dois continentes, sempre
coisas diferentes... “- confessa.
Ele sabe usar o
computador. Não é um analfabeto nessas
lides, como a maioria dos idosos. E sabe
escrever. Diz ele que ”pensa
que viu”...mas essas VISÔES
passou-as para o papel. E ao apagar das
luzes em 2013, resolveu fazer uma surpresa a um reduzido grupo de amigos:
ofereceu-lhes de presente essas visões, reunidas em dois livrinhos, escritos,
ilustrados e encadernados por ele.
Eu fui uma dessas felizardas. Tive o prazer de degustar, como
a um bom vinho, as palavras que Gomes Santos escreveu nas suas horas de ócio
produtivo. Ele soube, como poucos,
preencher o tempo nesta fase da sua vida. Das páginas de VISÕES selecionei
alguns pedacinhos. Pensamentos? Poemas?
Não sei. Sei apenas que são sábios alguns, amargos, outros. De muita beleza e
sensibilidade, todos.
Diz ele,
Em Artesão
“Desperdícios minimizam, tecem cadeias,
Oferecem à espécie,
que nada espera,
Deleite aos olhos, conforto à vida,
Aproveitam desta, os melhores momentos.”
E mais
adiante.
“No
mundo conturbado agruras passam batidas.”
Será que passam, amigo? Ou ficam e deixam cicatrizes?
Numa viagem
a Portugal, no Cabo da Roca.
“Aqui,
no Cabo da Roca,
o mar renova sonhos,
o sopro atiça vidas,
a nuvem apaga sinas.
Descortina-se o amanhã.”
Mais adiante
“...O intelectual
disse: uma boa digestão, para o idoso,
é tudo, felicidade.”
Ele não
concorda. E afirma.
...“O corpo demanda
pouco, a mente aspira
mais e com o passar dos
anos, doses cada vez
maiores, ....mais do que o alimento é o caso,
bem querer, amar.
Sempre a precisar
mais!”
Concordo com
você, Gomes Santos.
Numa hora de
melancolia, escreveu.
“
...Angústia a sufocar, ei-lo diferente,
Retroceder, ao antigo
viver incapaz...”
Uma
confissão.
...”Aos oitenta,
talvez esguio, pobre de
calças engomadas e,
Deus o livre de
ameaças, reumatismo e frio,
apetece saltar
fronteiras,
sem peias...”
Foi o que
você fez, amigo. E muito bem!
Numa das
últimas páginas.
“É
amizade, de ontem, hoje e sempre.
Enfim, tudo para
conservá-los....”
Outro em Fazer
versos.
Dizer o que vale a pena
ler,
soltar o trivial, verso
e rima
no essencial
permanecer, não é fácil.
Trabalho, imaginação,
certo domínio
da língua, inspiração. Adoçar pílula poética,
Vários tentam, alcançam
poucos, inclusive este.”
Não concordo. Você, Gomes Santos, alcançou. Conseguiu. Parabéns, amigo. Continue a ter VISÕES e a dar-nos a honra de as partilhar com você.
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